Moro nos Estados Unidos há 12 anos e, todas as vezes que pergunto a alguma família brasileira imigrante, assim como eu, o que os motivou a vir para os Estados Unidos, a resposta que recebo, 100 por cento das vezes, envolve:
– Para ter maior segurança.
– Para proporcionar um futuro melhor para meus filhos.
Mas como tornar isso uma realidade? Como lidar com todo o peso emocional da imigração e ainda alcançar o objetivo de um futuro melhor para os filhos?
Quando as famílias chegam aqui, e com a minha não foi diferente, precisamos nos adaptar a uma série de conhecimentos novos: o idioma, todos os afazeres domésticos, a burocracia para tirar documentos, obter visto, plano de saúde, contador, entre outros. Em meio a essa lista de afazeres, a questão da escola parece estar resolvida quando escolhemos uma boa região para morar, garantindo uma escola pública de qualidade para os filhos. Problema resolvido, vamos para o próximo, certo?
Só que não… Para a vida acadêmica desses jovens, a escola onde vão estudar é apenas uma pequena parte do quebra-cabeça que terão que montar durante sua jornada acadêmica para construir o melhor currículo rumo à universidade.
Para entender essa afirmação, precisamos nos despir de nosso conhecimento sobre o modelo de educação brasileiro. Assim como não podemos fazer traduções literais do português para o inglês, sob o risco de não sermos compreendidos, a tentativa de traduzir literalmente o modelo de educação brasileiro para o sistema americano apresenta o risco de oportunidades perdidas e, pior ainda, do fracasso em atingir o famoso objetivo de um futuro melhor para os filhos.
É necessário entender o sistema culturalmente; o objetivo do sistema americano é formar cidadãos. Os 12 anos de educação obrigatória e gratuita garantem a civilidade da população. É essencial compreender que o sistema é para todos, e não apenas para aquelas famílias que desejam que os filhos estudem em uma universidade. Garantindo a civilidade estes alunos ao se formarem no ensino medio estão aptos a assumir uma série de funções no mercado de trabalho e levar uma vida digna.
Se esse é o objetivo do sistema, então apenas matricular nossos filhos na escola não resolve nosso objetivo ao vir para cá, de construir um futuro melhor. Sim, eles estão em um país mais seguro, onde podem se sustentar apenas com um diploma do ensino médio. Mas, quando falamos de um futuro melhor, nós, brasileiros, estamos sonhando com a universidade, com todos os melhores recursos disponíveis nos Estados Unidos.
Para estar entre os 50% dos alunos que se formam no ensino médio e ingressam na universidade, a família, e não apenas o aluno, precisa conhecer todas as possibilidades que o sistema oferece. É necessário explorar cada oportunidade. No Brasil, quando escolhemos a escola de nossos filhos, decidimos com base no perfil da escola, no tipo de esforço e envolvimento acadêmico que o aluno deve ter. Essa é a única escolha a ser feita. Uma vez naquela escola, o aluno deve seguir o rigor de seu currículo acadêmico, passar de ano e se formar.
Nos Estados Unidos, a mesma escola deve fornecer educação e conteúdo para todos, desde aqueles alunos que apenas se formarão e entrarão no mercado de trabalho até aqueles que desejam ingressar em universidades altamente seletivas e se tornar os próximos Mark Zuckerberg. É como se existissem várias escolas dentro de uma só, e cabe a cada aluno e cada família, a cada ano, escolher o melhor caminho para construir seu currículo.
Os alunos escolhem o nível de matérias que cursarão. Muitas vezes, por serem recém-chegados ao país, não podem fazer as matérias mais avançadas. Muitas vezes, por falta de conhecimento, aceitam a sugestão de grade curricular que o coordenador da escola sugere. Mais um erro comum! O coordenador faz parte do sistema que trabalha para formar cidadãos; ele não está preocupado em saber que seu filho tem um grande interesse em robótica e matemática e deveria cursar as disciplinas mais avançadas nessas áreas. Por isso, é fundamental que a família compreenda o sistema para garantir os direitos desses alunos a uma grade curricular compatível com o nível de desafio que eles podem enfrentar. É muito comum ouvirmos: “a escola americana é muito fácil, meu filho estudava muito para tirar 7 no Brasil e aqui ele só tira A”. Eu sempre sugiro: confira as matérias dele; será que não está cursando apenas as disciplinas mais fáceis?
Outro aspecto do sistema americano que se torna uma armadilha para os brasileiros é a questão das notas. No Brasil, naquela escola com um currículo super desafiador que escolhemos para nosso filho, basta tirar 6 para passar de ano. O rigor no currículo das escolas brasileiras muitas vezes é demonstrado pela dificuldade em obter notas altas. Esqueçam! O modelo americano premia o esforço, a maneira como o conteúdo é absorvido e o foco é fazer com que os alunos tenham sucesso. A nota é uma composição de todas as tarefas realizadas, seja em sala de aula, em casa ou em provas. Tudo conta para compor a nota, e um aluno dedicado, com todas as matérias em dia, que entrega todos os trabalhos no prazo, tende a obter um A. É um modelo que valoriza o esforço de longo prazo. Nos Estados Unidos, você não verá o aluno brilhante que não se envolve em sala de aula, mas tira 10 em todas as provas ter acesso garantido a uma boa universidade. Por aqui, o aluno pode até obter nota 10 nas provas, mas se não estiver comprometido com a matéria, entregando todos os trabalhos, provavelmente não conseguirá um A. A exigência do A não é injusta. A nota A é natural para o aluno comprometido que está no nível correto de dificuldade das matérias. Aquele 7 suado no Brasil aqui se traduz em um C. C não é uma nota compatível com alunos que almejam ingressar em boas universidades. Portanto, não devemos hesitar em buscar o famoso boletim com straight As. Pelo modelo do ensino americano, eles são possíveis.
Além disso, outro erro comum é acreditar que, como o aluno fica na escola até as 3 da tarde, tudo o que ele precisa fazer foi feito neste periodo. O currículo que cada aluno precisa construir vai além do acadêmico. A sociedade americana é baseada no senso de comunidade, no respeito à comunidade, na doação para a comunidade, em retribuir os privilégios à comunidade e em fazer a sua parte para torná-la melhor. A primeira comunidade à qual o aluno pertence é a escola, e como tal, ela oferece inúmeras oportunidades para que o aluno se envolva e, trabalhando para a comunidade, adquira experiências, conhecimentos e habilidades que o tornarão uma pessoa interessante para as universidades durante o processo seletivo. É muito importante essa mudança de mentalidade, o entendimento de que é preciso se envolver. Somente através do envolvimento, com liberdade de escolha, fora da sala de aula, os alunos terão a oportunidade de encontrar suas “paixões”, o que os move, suas áreas de interesse. Essa parte do currículo é chamada de experiências extracurriculares e desempenha um papel fundamental no quebra-cabeça da educação americana.
Estar bem preparado e alcançar todos esses objetivos de notas, envolvimento em extra curriculares e voluntariado não são suficientes para os jovens que procuram uma vaga em universidades concorridas. Eles precisam saber se vender bem na hora de preparar suas candidaturas para essas instituições. As redações, ou ensaios, são verdadeiras oportunidades de argumentação de venda: Por que você? O aluno precisa estar preparado e confiante para se vender como os americanos fazem desde pequenos.
A adaptação cultural é intensa e é fundamental que as famílias compreendam as consequências de todas as escolhas que esse jovem terá que fazer ao longo do ensino médio. A preparação aqui é a longo prazo, e o jeitinho brasileiro não funciona de última hora. O melhor caminho para garantir um futuro melhor para seus filhos é trabalhar um presente de conhecimento para a família: o conhecimento necessário para estar pronto para agarrar as oportunidades quando elas se apresentarem.
Daniela Campos
Sócia Fundadora
Impacto Acadêmico