Há 10 anos, o patrimônio líquido dos fundos de ações somava R$ 331 bilhões e este montante esteve restrito apenas às ações brasileiras. Neste período, a bolsa brasileira (Ibovespa) se valorizou 111%, transformando o investimento inicial em R$ 700 bilhões, um resultado inferior ao CDI. Se estes mesmos fundos tivessem investido apenas em ações nos EUA, na média, o resultado se aproximaria da bolsa americana (S&P 500) entregando um desempenho de 310% e atingindo R$ 1.356 bilhões.
Esta decisão – deliberada ou por costume – de investir apenas em empresas brasileiras rendeu impressionantes R$ 657 bilhões a menos, equivalente a quase 4 anos do orçamento atual do Bolsa Família. Muito embora o investidor tenha se exposto a riscos maiores concentrando em nosso país.
Apesar da facilidade crescente para o brasileiro diversificar seu patrimônio em ativos estrangeiros, chama a atenção que a alocação em ações domésticas supera 95% do total – um patamar só observado em países com barreiras de livre circulação de capital, como Rússia e China. Este hábito de investir perto de casa, cunhado de home bias, é perpetuado por inércia, mas não aparenta ser fruto de muita reflexão. A própria indústria de fundos de ações sustenta o status quo, uma vez que a maioria dos regulamentos proíbem a alocação offshore e o discurso de praxe cultua uma suposta vantagem informacional: “investimos em empresas próximas, onde conhecemos as pessoas e temos contato direto com CEO”. Mas por mais sedutora que seja narrativa, ocasionalmente devemos contemplar os resultados.
A fixação com a bolsa brasileira explica por que o investimento em ações é pouco difundido no Brasil. Afinal, em períodos longos, o Ibovespa raramente superou a renda fixa, que historicamente contou com rendimentos altos e seguros. Então por que se aventurar investindo em uma classe de ativos estatisticamente desfavorável? Não é racional aumentar o risco sem a recompensa de maiores retornos.
Nos EUA a bolsa se provou uma alternativa muito superior para o aumento do poder de compra do investidor. Por que no Brasil esta relação é invertida? Conseguimos enxergar alguns fatores.
Primeiro, um juro elevado como o brasileiro, automaticamente dificulta a disputa (é mais fácil competir com juros baixos). E estes mesmos juros elevados diminuem tanto a propensão de consumo da população quanto a predisposição de empresas buscarem financiamento, dificultando a trajetória de crescimento de receitas e lucros corporativos.
Fora isso, as empresas brasileiras são majoritariamente da economia antiga e estão em setores cíclicos de baixo valor agregado. Isso implica em retornos sobre o capital investido baixos – uma enorme força gravitacional para a rentabilidade dos acionistas.
Um terceiro aspecto para este ciclo vicioso é a carência de capital humano especializado nas indústrias de fronteira – com raras empresas de ponta, nossos talentos vão estudar e fazer carreira no exterior. Essa falta de profissionais especializados exerce uma desvantagem competitiva nas empresas brasileiras e a economia digital do Brasil é dominada por players globais.
Sem dúvidas outros motivos contribuem para ao mal desempenho da bolsa brasileira, como fatores políticos e a quantidade reduzida de ativos listados em bolsa. Mas o ponto mais relevante é que estes mesmos fatores estruturais que atrapalham o progresso do nosso mercado de capitais, são forças positivas para a economia e para a bolsa americana. Em um mundo globalizado e digital, é imprudente limitar os investimentos ao território nacional.
Atualmente, um dos principais argumentos contra o investimento em ações estrangeiras é a taxa de juros elevada nos EUA. É verdade que a renda fixa americana está mais atrativa que na última década, quando não rendia nada. Mas vale lembrar que o patamar atual não é uma anomalia, e sim o padrão. Durante o último século a taxa média dos juros americanos de 10 anos foi de 4,75% a.a. e o mercado acionário prosperou neste ambiente.
Sempre haverá razões convincentes para evitar o mercado. Seja a crise do petróleo nos anos 70, o crash 1987, a bolha da internet em 2008, o ataque às torres gêmeas, a crise financeira global de 2008, a pandemia de 2020 ou as diversas guerras nesse período.
Para investir em empresas e conviver com as incertezas, é conveniente ser acionista dos melhores negócios do mundo.
Leonardo Otero é sócio-fundador da Arbor Capital